O
papel do novo Contador em um mercado ecologicamente preocupado
O
papel da Contabilidade, como ciência social, dentro
de um contexto mundial voltado para a preservação
dos recursos naturais, caracteriza-se como uma nova vertente,
um desafio a ser encarado pelos profissionais, com vistas
à mensuração do meio ambiente enquanto
patrimônio da humanidade, que passa a ser o objeto de
estudo da contabilidade ambiental. A preocupação
com a política ambiental a ser seguida, passa a ser
fator determinante na conquista de novos mercados consumidores,
mais exigentes, dispostos inclusive a pagar mais por produtos
ecologicamente corretos.
A
busca por esse conhecimento consiste em estabelecer uma interação
com as diversas ciências com vistas a melhor entender
a problemática ambiental, seus impactos e ao mesmo
tempo sua preocupação com as futuras gerações
(como preconizado no artigo 225 da Constituição
Federal), apelando sempre para o desenvolvimento sustentável
dos recursos naturais, procurando convencer os empresários,
de uma maneira geral, acerca da preservação
ou impactos no meio ambiente, denominados de externalidades
positivas ou negativas.
À
luz de uma legislação extremamente punitiva,
denominada de Lei de Crimes Ambientais, associada à
pesada responsabilidade profissional disposta no novo Código
Civil, a classe contábil passa a atrair a atenção
da sociedade, tendo em vista as informações
que divulga, especialmente à nível gerencial,
acima de tudo acerca das conseqüências dos atos
praticados pelas empresas, que podem influenciar na continuidade
do negócio, seja gerando credibilidade perante a opinião
pública, fornecedores e clientes, atraindo inclusive
créditos internacionais e lucros futuros, interferindo
sobremaneira na qualidade de vida, ou seja para atestar o
óbito do empreendimento e seus efeitos sociais.
Demonstrar
numericamente os fatos ecológicos, evidenciando Ativos,
Passivos, Custos, Despesas e Receitas ambientais, tudo em
consonância com os Princípios e Normas de Contabilidade,
é o desafio proposto pela Contabilidade Ambiental,
que passa a trilhar um novo caminho, aplicando técnicas
e conhecimento multidisciplinar com vistas a cumprir o seu
papel, que consiste inclusive na formatação
de demonstrativos, que muito em breve deverão ser normatizados,
passando à condição de universais.
A não obrigatoriedade da divulgação de
informações ambientais nos Balanços das
empresas em quase todos os países, não pode
ser tratada com indiferença, pois não se deve
esperar o colapso ecológico para somente assim tomar-se
providências. É sabido que o homem consome 40%
a mais de recursos naturais do que a natureza por si própria
é capaz de renovar, então é fácil
perceber que a escassez pode estar bastante próxima
caso não seja adotada de imediato uma reformulação
de pensamento e procedimentos. A mensuração
de tais fatos corporifica as externalidades ambientais, e
fica fácil perceber o caminho a seguir.
Alguns
autores defendem o pagamento de “royalties ecológicos”
pelos países ricos aos países pobres, pela utilização
dos recursos naturais em suas indústrias. O Brasil,
detentor da Amazônia, maior reserva florestal do planeta,
capaz de absorver o CO2 depositado na atmosfera pelos países
desenvolvidos, deveria receber divisas pela “purificação”
do ar que processa. Mensurar o “quantum” é
a tarefa a ser desenvolvida, e a criação de
leis universalmente aceitas é o maior desafio. Jenkins
(1996), após reconhecer a existência da Dívida
Ecológica e preconizar seu cálculo e liquidação
“once-and-for-all”, apresenta uma metodologia
de cálculo relativa apenas às emissões
de poluentes equivalentes ao CO2, concluindo que a Dívida
Ecológica anual das nações desenvolvidas,
apenas no que concerne às emissões industriais
de CO2, CH4 e utilização de CFCs é de
cerca de US$ 892 bilhões desde o ano de 1900. Imagine,
então, a que condição o Brasil seria
lançado no mercado internacional caso políticas
como essa fossem implementadas. Seria o equivalente a receber
por ano US$ 8,6 bilhões.
A
reduzida produção de trabalhos inerentes ao
tema enseja a pesquisa, a análise reflexiva, o aprimoramento
de técnicas, forçando novas políticas
públicas, inclusive relativas a benefícios fiscais
ou bonificações, dada a importância do
tema. Logo, percebe-se que o profissional qualificado, além
dos aspectos financeiros e econômicos a evidenciar,
deve transcender, buscando conhecimentos holísticos,
procurando adequar toda sua técnica às evidenciações
das mutações ambientais, traduzindo informações
ecologicamente corretas, contribuindo, assim, no desenvolvimento
da responsabilidade social das Ciências Contábeis,
projetando o profissional com o destaque devido que a profissão
merece no cenário nacional.
Bibliografia:
1)Artigo O conceito de Dívida Ecológica, Luiz
Henrique Lima.
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